PSCIOPEDAGOGIA : O QUE É APRENDIZAGEM

INTRODUÇÃO


Ao longo dos anos, diversas atitudes que parecem ser apenas bom senso foram objetos de estudo de pensadores da educação como Célestin Freinet, Paulo Freire, Howard Gardner, Jean Piaget, Lév Vygotsky entre outros tantos. Apesar de seus trabalhos não coincidirem em muitos aspectos, em outros eles se complementam, mas todos partem do princípio de que é preciso compreender a ação do sujeito no processo do conhecimento.
Segundo CIOPPO ELIAS (1996) citando FREINET diz que o educador compreende que a aprendizagem se das pelo tateio experimental. Quando o aluno faz um experimento e dá certo, a tendência é que repita aquele procedimento e vá avançando dia-a-dia. Porem, ninguém avança sozinho em sua a aprendizagem, necessita da orientação de seu professor. Assim, a interação entre educador e educando é fundamental.
FREIRE (1968) se opunha ao que ele chamava de educação bancaria. Esse tipo de ensino se caracteriza pela presença de um professor depositante e um aluno depositário da educação. Quem é educado assim tende a tornar-se alienado, incapaz de ler o mundo criticamente. Freire tinha plena consciência que era preciso atualizar para avançar. Antes de ensinar uma pessoa a ler as palavras é preciso ensiná-la a ler o mundo.
Na visão de PIAGET (1972), o professor é um facilitador criativo diferente do condutor. O professor enriquece o ambiente. Estimula o aluno a pensar. Desenvolver de forma ativa. O que permite a construção da autonomia moral é o estabelecimento da cooperação em vez da coação e do respeito mútuo no lugar do respeito unilateral. Sendo assim, a interação com o meio em que ele está inserido se desenvolve à medida que ele vai construindo e reconstruindo suas hipóteses.
Para VYGOTSKY o aprendizado é essencial para o desenvolvimento humano e se dá, sobretudo pela interação social. Assim Vygotsky e a escola de psicologia dialética soviética e seus seguidores Luria (1902/1977) e Leontie (1903/1979), estabelecem uma relação inseparável entre aprendizagem/desenvolvimento, chegando a afirmar que o desenvolvimento é que é o desenvolvimento vem depois da a aprendizagem. Portanto, a aprendizagem se enquadra na concepção de desenvolvimento do conhecimento, inserido em um processo social e cultural, contexto onde se aprende a relacionar-se com a realidade através do acesso a instrumentos concretos (objetos), e simbólicos (cultura, valores, crenças, costumes, tradições, conhecimentos).
Diante do exposto acima, podem ser feitas as seguintes indagações a respeito do que é a aprendizagem. Como acontece a aprendizagem? Quais as etapas da aprendizagem? Qual a diferença entre dificuldade, distúrbio e disfunção de aprendizagem? Existe articulação entre estrutura afetiva e cognitiva?
Assim sendo, este trabalho tem o objetivo de pontuar estas questões referentes à aprendizagem, e está estruturado da seguinte maneira: inicialmente a conceitualização de aprendizagem e suas etapas da aprendizagem sobre o ponto de vista de diferentes teóricos da educação. Na seqüência tratar-se-á a diferença entre dificuldade, distúrbio e síndrome.
Num segundo momento será tratado especificamente um distúrbio – dislexia - onde será proposta uma intervenção.

Obs: Como este foi um trabalho acadêmico que eu apresentei em minha faculdade


postarei-o fragmentado no decorrer do mês.



2 O QUE É APRENDIZAGEM?


Aprendizagem é um tema central para a educação. Pensemos nas reformas educacionais dos anos 90 que visam, em última análise, organizar e assegurar condições para que todas as crianças e adolescentes brasileiros possam de fato aprender o que se lhes ensina em escolas. Neste cenário de rápidas e profundas transformações do ideário educacional, temos sido provocados a pensar a aprendizagem como um processo que, para além da escolarização, desenvolve-se ao longo da vida de um indivíduo.
A construção de uma teoria de aprendizagem totalmente satisfatória e aceita por todos, permanece até os dias de hoje, como uma tarefa incompleta. Uma das dificuldades encontra-se no significado do termo aprendizagem. Seu significado depende das diversas teorias que existem. HILGARD, nos oferece uma definição, que segundo o próprio autor, por conter termos não definidos, "não é formalmente satisfatória" que diz que a “aprendizagem é o processo pelo qual uma atividade tem origem ou é modificada pela reação a uma situação encontrada, desde que as características da mudança de atividade não possam ser explicadas por tendências inatas de respostas, maturação ou estados temporários do organismo (por exemplo, fadiga, drogas, etc.)”. (1973 p. 3)
Ao "organizar uma teoria da aprendizagem” BECKER afirma que a “aprendizagem é aquisição de uma técnica qualquer, simbólica, emotiva ou de comportamento: isto é, uma mudança nas respostas de um organismo ao ambiente que melhore tais respostas em vista da conservação e do desenvolvimento do próprio organismo”. (1993, p. 26)
De acordo com outra teoria a respeito da aprendizagem a conceitua como sendo parte de um processo social de comunicação e, para que isso ocorra necessita do envolvimento entre alguns elementos como:
• Comunicador – caracterizado pelas pessoas que possa transmitir um determinado conhecimento;
• Receptor da mensagem – a pessoa com o propósito de receber conhecimento;
• Mensagem – o conhecimento a ser transmitido de forma clara e objetiva;
• Meio ambiente – lugar onde ocorrerá à transmissão do conhecimento e deve ser estimulado.
Esses quatro elementos devem interligados entre si para que não haja falhas e não ocorra alguma dificuldade de aprendizagem.
A aprendizagem acontece de forma gradual, constante e contínua. Cada sujeito apresenta um ritmo próprio de compreensão e isso fará com que ele construa sua própria individualidade. As pessoas aprender por si mesmo, ninguém pode aprender pelos outros. Tudo o que o indivíduo aprende constrói a base para um novo conhecimento a ser adquirido, por isso, diz-se que a aprendizagem é cumulativa.
Pode-se citar como fatores fundamentais para que haja aprendizagem:
• Saúde física e mental – para que seja capaz de aprender, a criança deve apresentar um bom estado físico (não estar febril, com dores de cabeça, deficiência viso-motora, auditiva, disritmias, etc.);
• Maturação – cria condições para que a aprendizagem ocorra; é formada pela interação entre hereditariedade e o ambiente em que ela está inserida;
• Inteligência – é a capacidade de raciocínio para resolver problemas (raciocínio lógico);
• Prévio domínio – conhecimentos já apresentados por ela, formados pela vivência diária aliada a motivação que é a vontade que o sujeito sente em aprender que pode ser próprio ou incentivado pelo professor e/ou pelos familiares;
• Concentração – é a capacidade de concentrar-se que facilitará a aprendizagem;
• Memória – é todo conhecimento que é armazenado nos hemisférios cerebrais.
O sujeito está pronto para aprender quando ele possui um conjunto de condições, capacidades, habilidades e aptidões consideradas como pré-requisitos para o inicio de qualquer aprendizagem.
Buscando conceituação na Neuropsicologia encontraremos o seguinte:

A aprendizagem resulta da recepção e troca de informações entre o meio ambiente e diferentes centros nervosos, isto é, o ato de aprender exige sempre um estímulo externo – informação – que é captado pelos órgãos dos sentidos habilitados a transformar esse estímulo de natureza físico-química em impulso nervoso de natureza fisiológica. O impulso – transportado pela inervação sensitiva – chega até um centro nervoso do córtex cerebral correspondente ao sentido estimulado. O estimulo visual termina no lobo occipital; o auditivo no lobo temporal; o táctil ou somestésico no lobo parietal..estas áreas onde estão projetados os estímulos denominam-se zonas de projeção ou primarias e nelas ocorre a sensação. A sensação é incompleta, não fornecendo informações precisas, mas constitui-se em passagem obrigatória para a percepção, esta sim, complexa e completa. [...] as áreas especialmente envolvidas com a aprendizagem, situam-se nos lobos occipital, parietal, e temporal do córtex sensorial, enquanto que a aprendizagem motora está representada no lobo frontal do córtex motor. Todas estas áreas estão intimamente ligadas. A muitas regiões infracorticais situadas abaixo do córtex, responsáveis por aspectos do comportamento que influenciam os resultados da aprendizagem.. ROMANELLI, 2003, p.49 – 54

Romanelli afirma ainda que

O Sistema Ativador Reticular Ascendente é o responsável por manter o cérebro em estado de alerta e possibilita a atenção necessária para processar a aprendizagem. Quando alcança o Sistema Límbico, envolvendo a memória e os estados afetivos moduladores do humor e da motivação irradia-se por todo o córtex formando sensações e percepções, organizando imagens, estruturando pensamentos e ordenando raciocínio, provoca engajamento da linguagem para elaborar e explicitar a esta avalanche cerebral. Como resultado, temos um único produto: a aprendizagem ou o pensamento que [..] acabam sendo desmembrados devido a nossa incapacidade de apreender as coisas em sua totalidade. Como pertinência pode-se afirmar que em toda aprendizagem razão e afetividade operam juntas. (2003 – p.54)

Portanto, segundo a neuropsicologia, a questão afetiva vem antes de qualquer outra razão e afeta diretamente na aprendizagem.
Os teóricos cognitivos preferiram concentrar-se na aprendizagem humana, em especial, na aprendizagem significativa da informação e das habilidades intelectuais mediadas pela linguagem. Com a recente consciência de que a aprendizagem é um processo mental ativo, os psicólogos passaram a interessar-se pela maneira como os humanos pensam, aprendem conceitos e solucionam problemas.
Outras correntes teóricas buscaram aprofundar e/ou explicar as teorias mais representativas, propondo inclusive novas abordagens para compreensão dos processos de desenvolvimento cognitivo e aprendizagem. Dentre elas destacam-se:
Albert BANDURA, que levanta uma abordagem de aprendizagem social e o papel das influências sociais na aprendizagem.
J. S. BRUNER e a teoria de que o desenvolvimento cognitivo se dá numa perspectiva de tratamento da informação, que ocorre de três modos: inativo, onde a informação é representada em termos de ações especificadas e habituais (caminhar, andar de bicicleta); o modo icônico, onde a informação é representada em termos de imagens, e, simbólica, onde a informação é apresentada sobre a forma de um esquema arbitrário e abstrato.
BRUNER tem muito em comum com Piaget, incluindo a ênfase na importância da exploração ativa e na solução de problemas como uma forma preferível e natural de aprender. Também é pessimista a respeito da efetividade da intenção de ensinar os estudantes a manipular procedimentos abstratos (ex. aprender a resolver equações), sem estabelecer primeiro as conexões profundas entre estes procedimentos e o que representam. Entretanto, enquanto Piaget enfatizava a aprendizagem das crianças através da exploração do ambiente físico, Bruner enfatiza a aprendizagem na escola, em particular das disciplinas acadêmicas, não somente armazenam conhecimento importante perdurável, mas também por que introduzem as crianças a potentes formas de pensar que constituem habilidades importantes para aprender a aprender. Assim, os estudantes deveriam desenvolver seu conhecimento realizando uma busca disciplinar.


Fonte: Giraffa (1997, p. 53)

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