PSICOPEDAGOGIA: CONE INVERTIDO - H.PICHÓN-RIVIÈRE






É um esquema constituído pôr vários vetores na base dos quais se fundamenta a operação no interior do grupo. A partir da análise interrelacionadas destes vetores se chega a uma avaliação da tarefa que o grupo realiza. A eleição do desenho do cone invertido se deve a que em sua parte superior estariam os conteúdos manifestos e em sua parte inferior, a fantasia latente grupais. Pichón propõe que o movimento de espiral que vai fazer explícito o que é implícito, atua ante os medos básicos subjacentes, permitindo enfrentar o temor à mudança.


Os vetores são:






  • Filiação e Pertença: a filiação se pode considerar como um caso anterior a pertenência, é uma aproximação não fixa com a tarefa. Seriam aqueles que estão interessados pelo trabalho grupal, seriam "os torcedores e não os jogadores".








  • Pertenência é quando os participantes entram no grupo, "na cancha". Na dinâmica grupal, tradicionalmente é medida em relação à presença no grupo, à pontualidade do seu início, às intervenções etc.








  • Cooperação: é dada pela possibilidade do grupo fazer consciente a estratégia geral do mesmo. "Se vê na justiça dos passes, na exatidão das jogadas gerais". No movimento grupal se manifesta pela capacidade de se colocar no lugar do outro.








  • Pertinência: é um terceiro vetor que surge da realização dos dois anteriores. "Se mede pela quantidade de suor que tem a camiseta ao final da partida", é a realização da tarefa estratégica. "O gol contra seria o cúmulo da falta de pertinência". Cabe aclarar que o alcance da pertinência grupal não é proposta como um ato de vontade mas sim como a expressão do desejo grupal, revelado na análise dos medos básicos.








  • Aprendizagem: a aprendizagem inclui vários aspectos que são o da estratégia - o da tática (que seria moldar na prática os objetivos estratégicos); o da técnica, que é a arte e o artesanato para levar a tarefa adiante, e a logística, que é a possibilidade de avaliar as estratégias dos elementos que se opõem à realização da tarefa em relação aos do próprio grupo, para permitir uma operação no nível adequado.


Para Pichón-Rivière (...) o indivíduo nos momentos de intensa resistência à mudança, voltaria regressivamente mais que a comportamentos próprios da etapa libidinal onde está predominantemente fixado, a repetir atitudes mal aprendidas que dificultaram sua passagem a uma etapa posterior. Assim substitui o conceito de instinto pelo de necessidade não satisfeita. A repetição seria provocada pôr dificuldades na aprendizagem e na comunicação, não permitindo assim a elaboração de uma estratégia adequada em seu devido momento. Assim, a transferência, mais que uma simples repetição, seria a colocação em jogo de estratégias e táticas mal aprendidas, com a intenção de poder corrigir as dificuldades ou os obstáculos que não puderam ser encarados daquela vez.



A aprendizagem operativa no grupo, através da tarefa, permite novas abordagens ao objeto e o esclarecimento dos fantasmas que impedem sua penetração, permitindo a operação grupal. Comunicação: esse vetor é tomado pôr Pichón-Rivière como o lugar privilegiado pelo qual se expressam os transtornos e dificuldades do grupo para enfrentar a tarefa. Na medida em que cada transtorno da comunicação remete-se a um transtorno da aprendizagem, veremos os sujeitos grupais tratarem de desenvolver velhas atitudes, em geral mal aprendidas, com a intenção de abordar os objetos novos de conhecimento. Este objeto pode ser nos grupos operativos, indistintamente, desde a compreensão de um conceito ao desenvolvimento de um processo terapêutico. Entendendo a aprendizagem, então, como a ruptura de certos estereótipos de comunicação e a obtenção de novos estilos, o que implica sempre reestruturações e redistribuirão dos papéis desempenhados pelos integrantes do grupo.







  • Tele: este vetor se refere ao clima afetivo que prepondera no grupo em diferentes momentos. É um conceito tomado da sociometria de Moreno para assinalar o grau de empatia positiva ou negativa que se dá entre os membros do grupo. A fundamentação deste conceito parte da base de que todo encontro é na realidade um reencontro, ou como gostava de dizer o próprio Pichón-Rivièri: "Todo amor é um amor à primeira vista". Isto quer dizer que o afastamento e a aproximação entre as pessoas de um grupo, não tem que ver com essa pessoa real presente, mas com a recordação de outras pessoas e outras situações que ela evoca.




INTERPRETAÇÃO





A interpretação no grupo operativo está tomada do modelo da interpretação psicanalítica que, sinteticamente, consistiria em procurar fazer explícito o implícito. O propósito geral da interpretação é o esclarecimento em termos das ansiedades básicas, aprendizagem, esquema referencial, semântica, decisão etc. Desta maneira coincidem a aprendizagem, a comunicação, esclarecimento e a resolução de tarefas com a cura. Tenta-se criar então um novo esquema referencial.





COORDENADOR E OBSERVADOR





O coordenador de grupo operativo não pode trabalhar nem como um característico psicanalista de grupo nem como um simples coordenador de grupo de discussão e tarefa. Sua intervenção se limita a sinalizar as dificuldades que impedem ao grupo enfrentar a tarefa.



Dispõe para isso de um ECRO a partir do qual tentará decifrar essas dificuldades e num processo adequado em relação aos quatro passos que são, estratégia, tática, técnica e logística, irá propondo ao grupo as hipóteses que lhe permitam tomar-se a si mesmo como objeto de estudo e ir revelando as dificuldades que aparecem na comunicação e aprendizagem. O coordenador não está ali para responder às questões, mas para ajudar o grupo a formular aquelas que permitirão o enfrentamento dos medos básicos. Ele cumpre no grupo um papel prescrito: o de ajudar os membros a pensar, abordando o obstáculo epistemológico configurado pelas ansiedades básicas. Seu instrumento é a sinalização das situações manifestas e a interpretação da causalidade subjacente. Forma uma equipe com o observador que, na forma tradicional de grupo operativo, é um observador não participante. Este ao mesmo tempo em que serve de tela de projeção pôr sua característica de permanecer silencioso, recolhe material expresso tanto verbalmente como pré-verbalmente nos distintos momentos grupais. As notas do observador são analisadas logo em conjunto com o coordenador que com esses elementos podem repensar as hipóteses formuladas e adequá-las em função do processo grupal.

Comentários

  1. Me ajudou e muito. Farei prova amanhã e no livro que tenho em mãos, não tive esclarecimento nenhum a respeito do asunto. Com seu blog pude respirar aliviada. Muito obrigada.

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  2. Me foi sugerido para leitura e aplicação institucional, é preciso mais leitura e reflexão. Não é facil sua assimilação, ´necessita de adapatação na sua prática. Muito bom.

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