PSICOPEDAGOGIA: APRENDIZAGEM E TEORIAS PSICOPEDAGÓGICAS





Aprendizagem consiste na interação professor-aluno, onde supõe-se que o primeiro ajuda inicialmente o segundo na tarefa de aprender, porque essa ajuda logo lhe possibilitará pensar com autonomia.
Para que isso ocorra, o aluno precisa ter ao seu lado alguém que o perceba nos diferentes momentos da situação de aprendizagem e que lhe responda de forma a ajudá-lo a evoluir no processo, alcançando um nível mais elevado de conhecimento. O professor por sua vez, precisa ter ao seu alcance uma teoria de aprendizagem, ou seja, hipóteses e modelos de como o ser humano aprende, isto é, maneiras de proceder nesta e naquela situação. São propostas alternativas ao sistema pedagógico tradicional, que é baseado na memorização de conteúdos.
O que é habitualmente chamado de construtivismo é a aplicação das teorias de aprendizagem de Jean Piaget. Em vez de apontar erros e fornecer a resposta correta, cabe ao professor questionar as respostas dadas pela criança de maneira que ela perceba as limitações da sua resposta.
Paulo Freire defende a importância da problematização para que os conteúdos sejam significativos, pois o que importa como conteúdo das conversas educativas que não são meras conversas, é a experiência humana tal qual ela ocorre nos seus produtos e na forma (processo) de produzi-los.(FREIRE, 1986).
É fundamental permitir que a criança desenvolva suas próprias teorias e hipóteses a respeito da escrita e garantir o raciocínio, que não se desenvolve com a repetição mecânica de conteúdos.
Segundo PIAGET (1980), cada vez que se ensina prematuramente a uma criança algo que ela poderia ter descoberto por si mesma, esta criança foi impedida de inventar, e conseqüentemente de entender completamente. Mais recentemente, as idéias de Howard Gardner com sua Teoria das Inteligências Múltiplas, começaram a ser difundidas. Para que se compreendesse o problema relacionado com as questões de aprendizagem, busca-se inicialmente o desafio da interdisciplinaridade. Tornava-se necessário um diálogo entre as áreas do conhecimento, buscando as contribuições de todas as ciências para a compreensão do processe do aprender, sem reduções a nenhum dos enfoques.
Era de fundamental importância a troca entre estas contribuições, buscando tecer uma rede onde estas informações se entrelaçassem como fios, construindo novos laços, descobrindo e refazendo nós. Nesse sentido, educadores, psicólogos, fonoaudiólogos, médicos, sociólogos e muitos outros especialistas mergulham no desafiante exercício para além da fragmentação do conhecimento e do reducionismo, provocado pelo excesso de especializações.
Estas experiências desafiam os educadores para uma nova postura: diálogos incessantes com os mitos sobre os poderes e verdades e as hierarquias do saber; exercícios constantes de "escuta", da busca da relatividade, da possibilidade de se colocar no lugar do outro; encontro com os limites, valorizando a complementaridade e se construindo através dela; a busca de um novo paradigma, uma nova postura, diante da hierarquia e isolamento dos "saberes" e diante do olhar fragmentado do ser que aprende.
Definia-se, dessa forma, um "lugar" de reflexão e ação sobre o aprender e seus problemas. "Lugar" que não se achava em nenhum dos domínios do conhecer, mas "entre" os saberes já constituídos e reconhecidos culturalmente. Uma nova construção emergia nesta dinâmica entre os conhecimentos e que não pertencia a nenhuma destas áreas já institucionalizadas, seja sob o ponto de vista da reflexão, seja sob o ângulo da ação. A construção da práxis psicopedagógica se constituía neste movimento interdisciplinar.
Apoiados em reflexões sobre a visão construtivista, com as contribuições pioneiras de Piaget sobre o desenvolvimento do conhecimento e encorajados pelas reflexões clínicas, fundamentados inicialmente na Psicanálise sobre a dinâmica psíquica do indivíduo e os mecanismos do inconsciente, educadores começaram a desenvolver teorias e práticas e construir espaços e novas condições para o tratamento destes problemas de aprendizagem, num contexto próprio, diferenciados do contexto escolar, da sala de aula.
Havia necessidade de aprimoramento destas avaliações e de construções para novos tratamentos, com enfoques específicos, voltados às necessidades destes aprendizes. Surge, nesta construção, um diálogo enfocando principalmente a Pedagogia e a Psicologia, numa abordagem clínica psicopedagógica de caráter interdisciplinar. Inicia-se assim a construção do processo "terapêutico psicopedagógico" do aprender.
Uma conotação importante a ser registrada, é a dificuldade de se encontrar uma equipe interdisciplinar ajustada dentro das escolas, principalmente a dificuldade de encontrar esta equipe numa escola pública, porque a Psicopedagogia não é só a confluência da Psicologia com a Pedagogia, ela carece de muitos outros afluentes neste caudaloso rio do atendimento clínico ou institucional, terapêutico ou preventivo.
Por outro lado, o psicopedagogo não podendo ser autônomo no atendimento, pois depende de outros especialistas, também não pode ser um "super profissional" intelectual que entenda de aspectos pedagógicos, psicológicos, neurológicos, fonoaudiológicos, psicolingüísticos e de outras exigências da Psicopedagogia.
A Psicopedagogia centra-se na intervenção nos processos de orientação e de ensino/aprendizagem que se desenvolve ao longo de todo vida, tanto com pessoas como com grupos e instituições. Pode-se a Psicopedagogia como uma simbiose nos âmbitos clínicos e intituicionais com os objetivos de otimizar a eficácia da intervenção com indivíduos e grupos. A identidade da Psicopedagogia se deve entender a partir de duas vertentes: a intervenção com pessoa-grupo e suas particularidades e a intervenção nos processos formativos, isto é, dentro da instituição.

Referências:

FREIRE, Paulo, Educação como prática de Liberdade. São Paulo: Cortez, 1986.

PIAGET, Jean . A Psicologia da Criança. São Paulo: Difel, 1980


Eleuzair Neves

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