Pequi


O fruto do pequizeiro é o Pequi - Nomes populares: pequi, piqui, grão-de-cavalo, amêndoa-de-espinho, piquiá-bravo, pequiá, pequirama, pequiá-pedra, pequerim, suari e piquiá. Nome científico: Caryocar brasiliense Camb .
A árvore é nativa e seu fruto foi batizado pelos índios, que eram muito objetivos em suas denominações. Em nheengatu py é pele ou casca e quya é sujo, espinhento. Donde afirma Teodoro Sampaio, piquia, puiqui (py-quyia) é casca suja. Realmente a casca do pequi parece suja. Há também a possibilidade do o i do pequi funcionar como diminutivo, a exemplo da palavra itai, pedra pequena. Assim pequi seria diminutivo de pequiá. Pequiá pequeno ou pequiá mirim. Quem conhece os dois frutos sabe disso; o pequi é, na realidade, bem menor que o pequiá, embora muitíssimo mais saboroso. Esses frutos de cor verde acinzentado, parecendo sujos, esferóides ou lobulados, variam de tamanho conforme o número de caroços neles contidos; de um a três. A casca tem meio centímetro de espessura e os caroços têm o tamanho de um ovo pequeno de galinha, mas de cor amarela viva; deles exala um perfume agradabilíssimo. A cor amarela constitui uma polpa de um a três milímetros de espessura, que envolve o caroço e é a principal parte comestível do fruto. Ainda fazendo parte do caroço, mas imediatamente abaixo da polpa, encontra-se uma camada de espinhos, que separa a polpa da castanha ou bala; esta de fino sabor e aroma.


Trata-se, portanto de um alimento extraordinário e que produz por conta própria, abundantemente, sem cuidados agronômicos, sem pragas e em zona pobre, um verdadeiro maná celestial Inacreditável como suas raízes vão buscar tanta substância.
O óleo da parte amarela e da castanha é largamente empregado na alimentação do homem do campo nas entre safras.
O pequizeiro é uma árvore dos cerrados, das chapadas. Nasce, cresce, frutifica, apesar das hostilidades da terra e dos homens. É como as aves do céu, os peixes dos rios, como as pastagens nativas, como todos os frutos silvestres. Não tem dono certo; dono é quem o colheu, caçou ou pescou-o. “É tempo de pequi, cada um cuida de si”- velho ditado sertanejo. Por isso é que quando o pequizeiro começa a soltar os frutos, os campos se povoam de mulheres, homens e crianças. O convite se espalha - Vamos nos pequi?
O pequi é comido cozido com sal. Roído é o termo certo, porque tem de se respeitar os espinhos, sempre prontos a penetrar na língua dos incautos, apressados ou ignorantes. Uma advertência divina, demonstrando que na natureza não existe somente o belo e o bom, mas também o ruim e o horrível. A farinha de mandioca é o acompanhante ideal para se comer pequi.
Para extração do óleo em grandes tachos ou panelas. Os pequis cosidos são pisados no pilão para soltar a polpa. Depois de tudo diluído em água, volta ao fogo e a gordura sobrenadante é colhida por meio de conchas e depositada em separado.
O óleo obtido da polpa é também amarelo e possui todas as características do fruto; excelente para culinária. Usado ao natural serve como tempero ou molho. O sabor, assim como a cor podem ser eliminados pela fervura intensa, tornando o óleo em condições de ser tolerado por qualquer pessoa. Da castanha ou bala obtém-se também um óleo branco e bastante mais suave do que o da polpa, empregado também na culinária, para margarina; excelente como tônico capilar. Ambos os óleos citados, apresentam-se sólidos, como manteiga, na temperatura ambiente; em dias de calor intenso eles se liquefazem. Parte da safra de óleo obtida é vendida e parte é guardada para uso doméstico no correr do ano.
As raízes do pequizeiro são riquíssimas em rotenona, sendo por isso, grandemente usada em pescarias de lagoas e pequenos rios represados. As raízes são socadas num pilão e batidas na água; dentro em pouco os peixes sobem, meio tontos e facilmente apanhados. É um timbó.
A casca do pequi tem pelo menos três utilidades:
1) Produz cinza com grande teor de potassa
2) Constitui uma excelente torta para gado
3) Serve para tingir roupas; de cinza claro até o preto

A frutificação acontece de outubro a fevereiro, produzindo frutos por 20 a 40 dias em média, com produção variável podendo chegar a 1000 frutos por pé.
Calendário de Frutificação
O fruto do pequizeiro apresenta gosto inconfundível tendo seu nome ligado às suas características botânicas, e etimologicamente ligado à língua tupi: py = casca e qui = espinho (Simões, 2005).
Contém normalmente entre 1 a 4 caroços, cientificamente chamados de putâmens. No Norte de Minas Gerais já foram encontrados frutos contendo até 7 caroços.
O caroço é composto por um endocarpo lenhoso com inúmeros espinhos, contendo internamente a semente, ou castanha, e envolto por uma polpa de coloração amarela intensa, carnosa e com alto teor de óleo.

Características Físicas do Pequi
Parâmetros
média
Peso por fruto (g)
76,41
Peso de caroço por fruto (g)
30,75
Peso de polpa por fruto (g)
7,41
Peso das sementes por fruto (g)
22,87
Diâmetro longitudinal (mm)
32,17
Diâmetro equatorial (mm)
41,16
Rendimento de polpa (%)
8,98
Rendimento de caroço (%)
28,81
Rendimento em casca (%)
61,66

Características Químicas da polpa do Pequi
Parâmetros
Quantidade por porção de 100 g de polpa

Umidade (%)
50,61
Proteinas (%)
4,97
Gordura (%)
21,76
Cinza (%)
1,1
Fibra (%)
12,61
Carboidratos (%)
8,95
Calorias Kcal/100g
251,47
Cálcio (mg/100g)
0,1
Fósforo (mg/100g)
0,1
Sódio (mg/100g)
9,17
Vitamina C (mg/100g)
103,15
Fonte:Relatório Institucional – Núcleo de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais, Montes Claros, 2003.
Uma das maiores virtudes do Cerrado brasileiro é a diversidade biológica deste bioma, representado por uma série de espécies vegetais que produzem frutos utilizados na alimentação humana, podendo-se destacar o pequi. Espécies medicinais e outras plantas úteis vêm sendo largamente utilizadas no cotidiano da população local, constituindo uma reserva farmacológica, nutricional e utilitária de riqueza inigualável para os povos das regiões ocupadas pelo Cerrado (Simões, 2005).
Assim como numerosos e exuberantes estames em sua flor, múltiplos são as formas de uso e significado do pequi para esses povos.
Elemento de base da cultura alimentar de várias regiões brasileiras, o fruto do pequi, compõe receitas tradicionais, como o Arroz com Pequi, Galinhada, alguns doces, licores, sorvetes, caracterizando fortemente, junto a outras especiarias, o bouquet de sabores das culinárias regionais aonde ele se encontra.
Popularmente, seu uso fitoterápico é apontado em diversos tratamentos, pelo uso do seu óleo, flores e folhas.
Extrativismo
Ao associar a coleta do pequi a uma atividade produtiva em cadeia, com expansão do consumo além do uso próprio ou familiar, origina-se também um problema de desequilíbrio ecológico, principalmente relacionado ao ciclo de reprodução do pequizeiro e dos ecossistemas circunvizinhos à planta e à área de coleta.
O pequizeiro, gera seus frutos – e conseqüentemente suas sementes – em número suficiente e necessário para que suas características genéticas sejam prospectadas naturalmente em seu meio, e aonde mais essas sementes alcançarem.
A coleta indiscriminada dos frutos, sem controle da quantidade coletada, ou da forma como isso é feito, afeta diretamente a produtividade e a diversidade natural da população de pequizeiros presentes numa certa região, além de prejudicar a relação destas árvores com insetos, animais maiores, plantas, e outras formas de vida que com as quais elas interagem diretamente, causando um desequilíbrio ambiental em maior escala.
Algumas recomendações de boas práticas de coleta do pequi são:
Não derrubar o fruto da árvore, muito menos utilizar varas ou qualquer outro instrumento para isso;
Coletar somente os frutos caídos naturalmente. Estes, sim, estão no ponto de consumo;
Não devastar a cobertura vegetal debaixo e ao redor da planta; existem outros seres em convivência natural com ela, que dependem dessa cobertura;
Coletar frutos sadios, e deixar os frutos rachados ou abertos como reserva natural, para reprodução da planta e alimentação animal; se houver somente frutos sadios, deixe assim mesmo uma certa quantidade de reserva. A recompensa futura será muito maior;
Somente leve os frutos. Não deixe nada que não pertença ao ambiente, como sacos plásticos não utilizados e outros tipos de lixo.


USO E APROVEITAMENTO AGROINDUSTRIAL DO PEQUI


Não obstante os problemas causados pelo extrativismo descontrolado, o avanço da fronteira agrícola no Cerrado, sob a forma de expansão de grandes lavouras monoculturais, como a soja, e a instalação, sobretudo no cerrado mineiro e baiano, de fazendas de reflorestamento de eucalipto, têm sido, numa escala escandalosamente maior, as principais ameaças ao estoque natural do pequizeiro e a toda a biodiversidade do bioma, sua água, seu solo e os povos que dele sobrevivem.
O aproveitamento do pequi sob a forma de seu processamento agroindustrial tem aberto perspectivas cada vez mais amplas e promissoras de atividade e agregação de renda por parte de agricultores familiares e extrativistas em regiões distintas do cerrado brasileiro, num esforço contínuo de preservação ambiental associado ao uso racional dos recursos naturais, espelhando as lutas contra os efeitos degradantes citados anteriormente.
Organizados por meio de associações, cooperativas e microempresas, eles têm buscado, com o apoio de organizações civis e de governos, aprimorar estruturas de produção, tecnologias e processos de beneficiamento, com um perfil mais apropriado à sua escala de investimentos, disponibilidade de matéria-prima e outros recursos naturais, e com foco na sustentabilidade ambiental.
Dentre processos tradicionais e novas tecnologias e produtos que se encontram em desenvolvimento no país, a tabela a seguir apresenta alguns usos e aproveitamentos possíveis que se podem dar ao pequi:
Posted by Picasa

Comentários

  1. E uma pena que esse delicioso e extraordinário alimento pode acabar em alguns anos, culpa da ganancia dos grandes plantadores da nojenta soja.

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