Psicopedagogia: aprendizagem

ETAPAS OU FASES DO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM


Diagnosticar quanto os alunos já sabe antes de iniciar o processo de alfabetização é um preceito básico do livro Psicogênese da Língua Escrita, que Emília FERRREIRO escreveu com Ana TEBEROSKY em 1979. A obra, um marco na área, mostra que as crianças não chegam à escola vazias, sem saber nada sobre a língua. De acordo com a teoria, toda criança passa por quatro fases até que esteja alfabetizada.


CARACTERÍSTICAS DOS NÍVEIS DA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA SEGUNDO FERREIRO

Nível 1: PRÉ-SILÁBICO

Hipótese Central: escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que a criança reconhece como forma básica.

Representação Gráfica: não é formada por grafias convencionais – grafismos primitivos, escritas unigráficas; grafias convencionais m,as sem controle de quantidade; presença de letras e números;
Formas utilizadas: grafismos separados; grafismos ligados.
Surgimentos da ordem linear;
Ao usar letra caixa alta: grafias variadas; quantidade constante de grafia.

Leitura: Global - correspondência do todo sonoro ao todo gráfico, inclusive do próprio nome. Não interpreta a escrita dos outros, apenas a sua – individual e instável; Não há definição quanto à orientação espacial dos caracteres;
Não busca correspondência entre a pauta sonora e a grafia; Pensa que lê as figuras; relação entre parte e todo não analisável, cada letra vale pelo todo.
Nível 2: PRÉ-SILÁBICO

Hipótese Central: para ler coisas diferentes é necessário haver uma diferença objetiva na grafia (escrita)

Representação Gráfica: grafias mais próximas de letra; predomínio da escrita em caixa alta (influencia externa); formas estáveis e fixas de escrita, a fim de garantir o significado diferente para escritas idênticas.

Leitura: Global - sem correspondência entre as partes sonoras e gráficas; cada letra vale como parte de um todo e não tem valor em si mesma; correspondência escrita-nome é ainda global e não analisável.

NIVEL 3: SILÁBICO

Hipótese Central: tentativa de dar valor sonoro a cada uma das letras que compõem a escrita.

Representação Gráfica: presença de grafias distantes e também mais próximas das letras; escrita de letras com ou sem valor sonoro convencional; uso da primeira letra da palavra, cujo valor sonoro é importante.

Leitura: passagem da correspondência global para a correspondência termo a termo (recorte silábico do nome). Em monossílabos ou dissílabos atribui significado complementar a interpretação da palavra ou a sua omissão na leitura; hipóteses de que a escrita representa a fala; formas fixas aprendidas geram conflitos, busca de uma correspondência mais satisfatória a faz ir além da sílaba. A leitura tende a se limitar ao nome.

NÍVEL 4: SILÁBICO-ALFABÉTICO

Hipótese Central: coexistência de duas formas de corresponder sons e grafias – fonemas para algumas partes das palavras e sílabas para outras.

Representação Gráfica: grafias diferenciadas (letras) com valor sonoro inicial; quantidade e repertorio variáveis; escrita na quais algumas grafias representa uma sílaba e outras um fonema (não se trata de omissão de letras); a construção total não é determinada por uma intenção de correspondência sonora.

Leitura: são feitas seguidamente analises sonoras das palavras. Neste nível é típica a mistura na leitura do nome, da hipótese silábica e de um começo de hipótese alfabética.
NIVEL 5: ALFABÉTICO

Hipótese Central: compreensão de que cada som/fonema corresponde a uma letra e de que as letras precisam ser combinadas entre si para formar sílabas e palavras.

Representação Gráfica: escrita alfabética com valor sonoro convencionado; dificuldades com a ortografia, pontuação e segmentação das palavras.

Leitura: lê alfabeticamente. A escrita e a leitura do nome próprio operam sobre os princípios alfabéticos, aparecem problemas de interpretação ortográfica e de separação entre as palavras.

O Desenvolvimento da Escrita na Criança Segundo Luria
Sequência da gênese de aquisição da escrita:
Fases pré-instrumental escrita imitativa - imitação por parte da criança da forma externa da escrita empregada pelo adulto; as crianças grafam traços semelhantes à escrita cursiva (registros lineares contínuos em ziguezague);
desconhecem a utilização do traço gráfico como recurso auxiliar para outros objetivos, escrever é produzir o traço por si só, não existe o caráter instrumental; escrever é associado ao aspecto lúdico da atividade; a criança dissocia o escrever da solicitação de registrar o que está sendo dito e ela passa a escrever sem esperar pelo conteúdo a ser registrado; não é possível identificar os significados diferentes que teriam originado os registros; falta de conexão entre os registros e o significado a ser escrito, como também a inexistência de diferenciação entre os traços; ausência da compreensão do aspecto interior da escrita; interferência negativa para o desempenho mnemotécnico, é comum a criança não consultar o registro gráfico para recordar, tentando se concentrar para lembrar apenas pensando; mesmo tipo de registro gráfico, entretanto, poder ser utilizado pela criança: ao fixar o olhar, ao retomar alguns itens da lista: sinais de que ela está utilizando a escrita a favor da memória. Escrita não mais pré-instrumental.
INICIO DA FASE INSTRUMENTAL
ESCRITA TOPOGRÁFICA- registro gráfico pode ser igual, mas existe uma organização e distribuição espacial responsável pelas diferenciações, a posição do rabisco indiferenciado na folha é o aspecto considerado pelas crianças para a acessar a memória; ao traço é atribuído maior estabilidade, a criança conseguia refazer a leitura diversas vezes sem confundir os significados originalmente registrados; mesmo não havendo precisão no que foi anotado, a criança sabe que algo está anotado ali; esse tipo de registro exerce o papel de signo primeiro para se fazer anotações , apesar de não ter construído formas objetivas de registro do conteúdo; o desempenho na leitura pode variar, pois este tipo de signo não se constitui num signo simbólico, não é inteiramente instrumental, apenas estimula associações que são totalmente idiossincráticas.
Passo seguinte: refinar a diferenciação do signo para que ele represente um conteúdo especifico; passagem do signo primário não-diferenciado para o signo-símbolo, atributos presentes no conteúdo mobilizam a diferenciação neste percurso.

INICIO DA FASE SIMBÓLICA - ESCRITA PICTOGRÁFICA
Atributos considerados inicialmente: expressão do ritmo falado, conteúdos mais longos ou mais curtos são registrados em grafias de tamanho similar, o signo não é preciso, é difuso; ao se associar quantidade e forma distintas no conteúdo o registro adquire um caráter francamente pictográfico, próximo da pictografia primitiva; escrita toma forma de desenho, converge par uma atividade intelectual de intermediação da memória; primeira escrita diferenciada, há um registro especifico de conteúdos particulares em cada sinal gráfico, primeira utilizada como meio de expressão; há dificuldades teórico-metodológicas para se saber em que momentos o desenho é ou não utilizado como meio para outros fins, requer a observação de outros indícios (gestos, falas, etc.); essa escrita pode não existir no desenvolvimento da criança, se esta estiver sob influencia da escrita simbólica alfabética aprendida na escola; passagem do recurso figurativo, conteúdo associado ao significado, apara o recurso simbólico, uso de marcas arbitrarias que exige um certo desenvolvimento da abstração; a acriança já conhece certas letras e utiliza técnicas muito diferenciadas e de maneira descontínua.

FASE SIMBÓLICA ESCRITA CONVENCIONAL

Os símbolos passam a adquirir significados funcionais, no entanto, ao empregar apenas letras isolados implica que ainda não dá compreensão das mesmas, podendo contudo, fazer grafias diferentes no registro de conteúdos distintos; a descoberta e o uso simbólico do registro gráfico transformam o padrão de relação da criança com a realidade, a aquisição de um conhecimento (escrita) configura a própria constituição e complexidade dessas crianças, a linguagem ao ser internalizada pela criança, a transforma.

DESENVOLVIMENTO SEGUNDO HENRI WALLON

IMPULSIVO E EMOCIONAL - 0 A 1 ANO - Centrípeto de edificação do sujeito:


a) Impulsividade Motora Pura- 0 a 2/3 meses: -Predomínio dos reflexos e das reações fisiológicas (espasmos, gritos).

b) Emocional ou Tônico-emocional – 3 a 12 meses -Preponderância das expressões emocionais como modo dominante das relações criança-meio. Simbiose afetiva. Começo de sistematizações dos exercícios sensório-motores.


SENSÓRIO-MOTOR e PROJETIVO - 1 a 3 anos

a) Sensório-motor – 12 a 18 meses - Comportamento de orientação, investigação e exploração do espaço circundante, ampliado pela locomoção

b) Projetivo ou de ideomovimentos – 18meses a 2/3 anos
Imitação, linguagem, atividade simbólica, representação. Aparecimento da inteligência representativa


PERSONALISMO - 3 a 6 anos - Centrípeto

a) Crise de oposição – 3 anos - Independência progressiva do Eu. Uso do meu e teu, consciência das diferenciações entre ela e ou outro, sentimento competitivo e de dominação.

b) Idade da graça – 4 anos - Sedução do outro, chama a atenção para si, quer ser admirada e aprovada. Importância da expressão espontânea e do jogo (alternância entre realidade objetiva e subjetiva)
c) Representação de Papeis – 5 a 6 anos - Imitação de personagens, necessidade de identificar-se com a realidade.



CATEGORIAL - 6 a 12 anos - Centrífugo.
a) Idade da razão – 6 a 7 anos - Interesse desloca-se do "Eu" para as coisas. Poder de autodisciplina mental, atenção.
b) 7 a 9 anos - Constituição de redes de categorias dominadas pelos conteúdos concretos, relações de classificação.
c) 9 a 11 anos - Aproximação da objetividade de percepção e pensamento do adulto, conhecimento operativo racional.


PUBERDADE ADOLESCÊNCIA a partir dos 11/12 anos

- Idade da metafísica - Retorno ao "Eu corporal" e ao "Eu psíquico"; nova crise de oposição. Retirada do pensamento sobre si mesmo, tomada de consciência de si mesmo no tempo (inquietudes existenciais).

CONCEITOS CHAVES DA TEORIA DE WALLON

1) Lei da Preponderância Funcional – é a lei da sucessão da preponderância funcional, na qual as três dimensões ou subconjuntos preponderam, alternadamente, ao longo do desenvolvimento do homem: motora, afetiva e cognitiva. A função motora predomina nos primeiros meses de vida da criança, enquanto as funções afetivas e cognitivas se alternam ao longo de todo o desenvolvimento, ora visando à formação do Eu (predominância afetiva), ora visando o conhecimento do mundo exterior (predominância cognitiva).


2) Lei de Alternância Funcional – indica duas direções opostas que se alternam ao longo do desenvolvimento: uma centrípeta – voltada para a construção do Eu e a outra centrífuga – voltada para a elaboração da realidade externa e do universo que a rodeia. Essas duas direções se manifestam alternadamente, construindo o ciclo de atividade funcional.


3) Lei da integração Funcional – chamada de lei da diferenciação e integração funcional, diz respeito às novas possibilidades que não se suprimem ou se sobrepõem às conquistas dos estágios anteriores, mas, dos três subconjuntos funcionais – motor, afetivo e cognitivo – constitui o ultimo e quarto subconjunto funcional, denominado por Wallon pessoa.

DESENVOLVIMENTO HUMANO SEGUNDO PIAGET


As obras de Piaget e de seus interpretantes discorrem sobre os estágios de desenvolvimento da inteligência, que se efetua de modo sucessivo, segundo a lógica das construções mentais - da inteligência sensório-motora à inteligência operatória formal.
A teoria psicogenética centrou sua atenção na psicogênese, no estudo das formas mais primitivas de conhecimento até as mais complexas. Esta teoria descreve em esquemas de ação interiorizada ou esquemas representativos por regras de combinações de esquemas ou operações. De forma bastante detalhada Piaget trata as etapas de evolução desses esquemas e de forma organizada, desde o nascimento até a idade adulta. Podendo ser classificada os períodos da inteligência em quatro estágios abaixo descritos:
a) Sensório-motor (0 aos 18/24 meses aproximadamente): nesta fase a criança está explorando o meio físico através de seus esquemas motores.

b) Pré-operatório (2 anos a mais ou menos 7 anos): a criança é capaz de simbolizar, de evocar objetos ausentes. Estabelece diferença entre significante e significado, o que possibilita distância espaço-temporal entre o sujeito e o objeto, por meio da imagem mental. A criança é capaz de imitar gestos, mesmo com a ausência de modelos.

c) Operatório Concreto (7 a 11 anos): a criança tem a inteligência operatória concreta, sendo capaz de realizar uma ação interiorizada, executada em pensamento, reversível, pois admite a possibilidade de uma inversão e coordenação com outras ações, também interiorizadas. Necessita de material concreto, para realizar essas operações, mas já está apta a considerar o ponto de vista do outro, sendo que está saindo do egocentrismo.

d) Formal (entre os 9/10 anos aos 15/16 anos): o adolescente tem as estruturas intelectuais para combinar as proporções, as noções probabilísticas, raciocínio hipotético dedutivo de forma complexa e abstrata.


Assim, as noções da gênese que são admitidas pela concepção piagetiana quanto aos esquemas que os alunos utilizam num determinado momento de sua escolaridade, estão em parte determinados ou condicionados pelo nível de desenvolvimento operatório que alcançaram. Mas o que determinará se um aluno tem ou não a possibilidade de levar a cabo um raciocínio complexo e abstrato do tipo formal.

Referências:

GALVÃO, I.. Henry WALLON: uma concepção dialética do desenvolvimento humano. 4a ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

LURIA, A. R. Pensamento e Linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

PIAGET, J.. O Nascimento da Inteligência na Criança. Editora Zohar, Rio de Janeiro, 1970.

______ Aprendizagem e Conhecimento. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1974.

Links:

Disponível em:http://novaescola. abril.com.br/ed/139_fev01/html/repcapa_emilia.htm acessado em 22 mar 2005.

Disponível em: http://www.navinet.com.br/~gualberto/WALLON.htm (A. GUERRA – “Manual de Psiquiatria Infantil”, Ed. Masson). Acesso24 mar 2005.









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