Mas afinal o que é essa tal felicidade?


BOAS FESTAS

Anoiteceu, o sino gemeu.
A gente ficou feliz a rezar.
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar.

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel.
E assim felicidade
Eu pensei que fosse
Uma brincadeira de papel.

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem.
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem.


Engraçado como a gente é desatenta com as coisas que estão ao nosso redor ou faz parte de nosso cotidiano.
Depois de ver a apresentação do Natal do Palácio Avenida e vim ver como ficaram as fotos tiradas durante o espetáculo, comecei a cantarolar esta famosa música natalina de Assis Valente. Então minha filha e a amiga dela disseram-me que essa canção tem um ar melancólico.
Fiquei pensando naquilo e resolvi escrever a letra e percebi que elas tinham razão.
Percebam que na primeira estrofe alguém descreve o que se passa: “anoiteceu, o sino gemeu e a gente ficou feliz a rezar”. Depois faz um pedido a Papai Noel – que me traga a “felicidade”.
Na estrofe seguinte começa a melancolia, esse sentimento de vaga e doce tristeza que favorece o devaneio.
Em sua utopia diz: “eu pensei que todos fossem filhos de Papai Noel”, mas não é e em seguida, “que a felicidade fosse uma brincadeira de papel”, isto é, um jogo, um divertimento, um passatempo, coisa fácil de fazer ou conseguir, ou melhor, uma brincadeira de criança e, finaliza dizendo que há muito tempo lhe pediu, mas que seu papai Noel não vem - por a felicidade ser uma coisa simples pensou que ele traria rápido - e conclui “com certeza já morreu ou então felicidade é brinquedo que não tem”, ou seja, papai Noel está morto e a felicidade não existe.
Se pararmos para pensar o que é felicidade? O que é ser feliz e o que realmente estamos buscando quando dizemos que queremos ser felizes? Será que a felicidade é uma esperança ou uma crença vã?
Poder sentir a consciência plenamente satisfeita em um estado de contentamento profundo e um bem-estar que satisfaça todas as exigências do corpo e/ou do espírito, talvez seja a felicidade. Quem sabe, o dinheiro, o poder, o amor. Quiçá a saúde seria sinônimo de felicidade ou a felicidade seria talvez, nenhuma dor.
No entanto, a felicidade permanente para mim não existem. O que existem, na verdade, são momentos felizes em que você consegue sentir uma sensação de segurança, de conforto e de tranqüilidade, uma descarga desmedida de adrenalina. E esses momentos são transitórios.
Lembro-me que certa vez, devia ter uns quinze anos de idade, resolvi ir de bicicleta da cidade (Chapada dos Guimarães-MT) em que morava para estudar até a nossa fazenda (Cachoeira Rica- MT) onde estavam meus pais. Não era muito longe, uns 45 km somente e, naquela época era fácil fazer esse percurso sem muitos problemas, pois conhecida muito bem o trajeto e estava habituada a percorrer distâncias bem maiores que esta, a procura de novas cachoeiras e lugares paradisíacos.
Levantei no clarear do dia e pedalei uns 5 km saindo da cidade em direção ao Cibrazem (Cia Brasileira de Armazenamento). De lá, podia-se ver a estrada naquele chapadão até aonde a vista alcançava. O sol estava despontando no horizonte em tons de vermelho-alaranjado e o céu num azul-violáceo. O cerrado com suas árvores tortuosas molhadas pelo orvalho, os pássaros começava a despertar e cantavam em sinfonias variadas e harmônicas. Soprava uma brisa branda e intermitente e por um longo tempo fiquei a admirar toda aquela imensidão que pareciam ainda dormir.
Pela primeira vez em minha vida, senti o ar entrar pelas narinas e percorrer o corpo até os pulmões numa sensação de êxtase profundo, de liberdade, um sentimento desinteressado de satisfação diante da tanta beleza.
Já vivi outros momentos felizes e vez ou outra, os vivos. Entretanto, com aquela intensidade de ficar gravada na memória e sem nenhum esforço, consigo reviver cada instante como agora para descrevê-la, foi somente àquela vez. Portanto, para mim a felicidade é pura e simplesmente saber determinar o valor das emoções boas no equilíbrio físico e mental. Procurar expurgar do seu coração todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade, pois ele neutraliza todas as outras qualidades e virtudes do ser humano.
Depois de viver quatro décadas e conhecer incontáveis pessoas de diferentes idades, raças e credos, passei a observar que todos sempre perseguem a felicidade como uma meta ou um fim, como um estado de bem-estar ideal e permanente. Todavia, a felicidade se compõe de pequenos momentos, de detalhes vividos no dia-a-dia e, talvez sua principal característica seja a futilidade, a sua capacidade de aparecer e desaparecer repentinamente ao longo de nossas vidas.
Mas essa busca constante por essa tal felicidade é que gera controvérsias entorno deste tema sobre a qual muitos divergem se a felicidade está em acontecimentos externos e materiais ou em nosso interior, em nossas próprias disposições internas.
Ainda hoje é difícil responder a esta questão com conceitos precisos e com profundos significados. Porém, sei que essa tal felicidade inclui alegria e muitas outras emoções, algumas das quais não são necessariamente positivas (compromisso, desafio, inclusive dor). É a motivação, a atividade dirigida a algo, o desejo, a busca pela satisfação desses desejos e que produz nas pessoas sentimentos positivos mais profundos.
Não há dever que descuidamos tanto como o dever de sermos felizes, porque a felicidade é um estado de atitude, das circunstancias da vida, e pouca pessoas entende isto e acreditam que serão felizes ao conseguir o que querem.
Sabemos claramente que é bem assim. Devemos tomar a felicidade como uma recompensa e não como uma meta. Não busque ser feliz a cada momento, somente viva cada um deles com intensidade e terá sua recompensa.
Se uma pessoa se propuser a ser feliz conseguirá sem nenhuma dificuldade. O problema é que sempre buscamos ser mais felizes que as demais pessoas.



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