SAMBA-ENREDO – ARTE DE CONTAR ESTÓRIA


Só mesmo no Brasil para acontecer o “maior espetáculo da terra” – 0 carnaval. Parar um país de extensão continental e colocar nas ruas milhões de foliões ao mesmo tempo, é coisa que só brasileiro consegue expressar e interpretar com virtuosidade no âmbito artístico e intelectual, representar pensamentos, idéias, qualidades sob forma figurada e em que cada elemento funciona como disfarce dos elementos da idéia representada. Este é o carnaval brasileiro, repleto de luxo e beleza
Carnaval me encanta desde a infância. Fico esperando sair os CDs (Rio e São Paulo) para comprar e decorar todas as letras antes do carnaval.
Não me apetece o carnaval “pipoca”, mas o carnaval com fabulosas fantasias com seus coloridos harmônicos e alegorias colossais, com o mestre-sala e a porta-bandeira, com as baianas rodopiando na avenida, as destrezas das passistas sambando, com a comissão de frente, as alas dos componentes com seus adereços contando a história do enredo e, mantendo a continuidade do desfile sem deixar lacunas e sem perder o ritmo no som da bateria (espetáculo a parte) - o coração da escola, que quando passa, extasia a multidão com seu ritmo firme e preciso marcando o samba-enredo da escola e que de certa forma, transporta todos os envolvidos na festa para fora de si e do mundo sensível, por efeito de exaltação mística ou de sentimentos muito intensos de alegria, prazer, admiração.
Já perdi as contas de quantos carnavais já vi. Esses espetáculos me conquistaram e continua conquistando anos após ano. O carnaval do Rio de Janeiro é muito luxuoso e de uns tempos para cá, de São Paulo não tem deixado nada a dever, é de igual beleza e suntuosidade.
Estas festas profanas, originadas na antiguidade e recuperadas pelo cristianismo, e que começa no dia de Reis e acaba na quarta-feira de Cinzas, às vésperas da Quaresma é caracterizada pela liberdade de expressão e movimento de um povo. Em nossos carnavais suas características mais marcantes são o uso exclusivo dos temas nacionais.
As escolas de samba, através de suas criações, louvam a pátria em seus mais diversos aspectos e o mais curioso, é a maneira que os compositores resolvem esses temas.
É sabido que o brasileiro é muito criativo e original e suas composições são de igual notabilidade.
Vejamos alguns títulos de sambas-enredos colocados nos sambódromos da Marquês da Sapucaí – RJ e Anhembi – SP:
A começar pela Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense – RJ que trouxe para a avenida o tema
Marquês que é Marquês, do saçarico é freguês (1993); Cana-caiana, cana roxa, cana fita, cana preta, amarela, Pernambuco... quero vê descê o suco, na pancada do ganzá (2001); Mais vale um jegue que me carregue, que um camelo que me derrube lá no ceará (1995); Goytacazes... Tupi or not tupi in a shouth american way! (2002).
A Escola Beija-flor - RJ trouxe em 1989, com o carnavalesco Joãozinho Trinta, o enredo Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia, em 2000 ; Brasil - Um coração que pulsa forte. pátria de todos ou terra de ninguém (2004); Manôa - Manaus - Amazônia - Terra Santa... Que alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz (2007); Povo conta a sua história: "saco vazio não pára em pé" - a mão que faz a guerra faz a paz (2003); O vento corta as terras dos Pampas. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete povos na fé e na dor... Sete missões de amor (2005).
Império Serrano em 1985 trouxe Samba, suor e cerveja, o combustível da ilusão”; Acadêmicos do Salgueiro em 1986 trouxe “Tem que se tirar da cabeça, aquilo que não se tem no bolso” “ Me amasso, se não passo pela Rua do Ouvidor (1991);
Em 1994 Caprichosos de Pilares - RJ entrou na avenida com Estou amando loucamente uma coroa de quase 90 anos. Ainda em 1994, a Unidos de Vila Isabel - RJ trouxe Muito prazer! Isabel de Bragança e Drumond Rosa da Silva, mas pode me chamar de Vila.
A Unidos do Viradouro - RJ em 2004 entrou com
Pediu Pra Pará, Parou! Com a Viradouro Eu Vou... Pro Círio de Nazaré.
Nenê de Vila Matilde - SP em 1985, entrou no sambódromo do Anhembi com o dia que o cacique rodou a baiana aí ó; Em não se plantando, tudo nos dão?...Não!!!! (2002).
O enredo Nhô João Preto Velho, Milagreiro e Profeta de todos os Deuses lá pelas bandas do Cafundó (2003 ), foi tema da Império da Casa Verde – SP.
Na trilha do tesouro, nem todo mar é azul, nem todo amarelo é Ouro(1998) da Acadêmicos do Tucuruvi -SP.
Rosa de Ouro - SP com seu "Non ducor duco", qual é a minha cara? (1992); Quem Plantou o Palco, Hoje é o Espetáculo (2001); Rosaessência - o eterno aroma (2008).
Unidos da Vila Maria - SP, com o enredo De volta ao passado: Uma viagem pela rodovia do futuro.
(2003); Em minhas costas o Brasil carreguei, nas minhas rodas o país levantei... Com o futuro eu sonhei (2006).
Com eu disse, é muita criatividade, originalidade e inovação para contar a nossa história. É colocar na avenida a cultura de um povo com outro olhar, sem limites, sem regras para suas estórias. O que realmente vale no carnaval é a imaginação do seu carnavalesco.
Com diz o samba-enredo da Porto da Pedra – RJ
No Reino da folia, cada louco com sua mania (1997).
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Faz parece bem natural
A loucura que é essa vida
Nem todos os que aqui estão são loucos
Nem todos que são loucos, aqui estão
Neste reino da insanidade
A teimosia e a vaidade dão as maos

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Feito o galante Dom Quixote
Que a loucura idealista fez lutar até a morte
Raul, maluco beleza, há dez mil anos atrás
Já dava adeus à tristeza, pregando
O amor e a paz
Menino maluquinho pela idade
Do cinema até é tema, louca é toda criança
Nijinski, bailarino incomparável
Com certeza incurável na loucura pela dança
Tão louco quanto Bispo do Rosário
Fez do mundo um inventário para doar ao criador
Eu vi sair, de um pavilhão em São Gonçalo
Loucuras vindas de imaginários
Tão loucos quanto os que a gente já cantou
Eu canto, eu pinto, eu bordo
Sapucaí é a tela
Porto da Pedra enlouquece a passarela.



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