PSICOMOTRICIDADE - IDÉIAS DE PIAGET
Para Piaget, o desenvolvimento do conhecimento é um processo espontâneo, ligado ao processo total da embriogênese e ao desenvolvimento do corpo, do sistema nervoso, das funções mentais e da totalidade das estruturas do conhecimento (PIAGET, 1976). Também está ligado à interação dos fatores cognitivos e afetivos (PIAGET, 1981; PIAGET E INHELDER, 1993). Piaget, através de sua teoria dos estágios de desenvolvimento psicogenético, tornou possível avaliar as estruturas das quais o sujeito já dispõe, para compreender e assimilar certos conceitos, inclusive os escolares, e verificar também as estruturas que o sujeito ainda não construiu ou está em fase de construção e que o impedem de assimilar e compreender outros conceitos.
São quatro os principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento mental ressaltados por PIAGET .
O primeiro é o crescimento orgânico, o crescimento biológico das estruturas orgânicas hereditárias, a maturação; é ela que fornece as estruturas necessárias e as condições suficientes para que o organismo responda ao meio; representa um potencial para acomodar novas estruturas e novas informações a partir das primeiras. Tem papel indispensável na sucessão de estágios que caracterizam o desenvolvimento, mas não consegue explicá-lo totalmente.
O segundo fator é a experiência; um mínimo de experiência é necessário para que o sujeito construa o conhecimento. Há dois tipos de experiências: a física, da qual resulta o conhecimento físico, e a lógico-matemática. Ao agir sobre os objetos, o sujeito retira informações do mesmo, abstraindo suas propriedades (peso, cor, etc.). Esse tipo de experiência que resulta do conhecimento físico serve de base para a estruturação do conhecimento lógico-matemático, que é abstraído das ações do próprio sujeito, e não dos objetos, pois agindo sobre os objetos, o sujeito constrói relações lógicas entre e dentre eles, criando relações que não existem nos objetos e sim na ação (ordenar, reunir, classificar, etc.).
Outro fator fundamental é a transmissão social, que pode ser lingüística ou educacional; é importante lembrar que a socialização é uma estruturação, e que nela o indivíduo fornece tanto quanto recebe (operações e cooperação).
Em sua obra “Estudos Sociológicos”, PIAGET (1973) descreve dois tipos de relações interindividuais ou sociais. Uma delas é a cooperação, que implica trocas entre indivíduos quando há igualdade de direitos ou autonomia. Esse tipo de relação é capaz de socializar o sujeito, tornando-o menos egocêntrico. O outro tipo de relação social é a coação, que implica um elemento de respeito unilateral que pode ser de submissão, autoridade, etc, e que conduz à heteronomia.
Mesmo antes do aparecimento da linguagem, o social intervém no desenvolvimento por intermédio dos adestramentos sensório-motores, como a imitação, embora não modifique a essência da inteligência pré-verbal. Percebe-se, portanto, que a sociogênese intervém na psicogênese desde os estágios mais elementares do desenvolvimento.
Ao analisar a evolução do pensamento, nota-se que, nos primeiros estágios de desenvolvimento, este é egocêntrico e subjetivo; com o desenvolvimento progressivo, através da diferenciação entre o “eu” e o mundo, torna-se descentralizado e objetivo, nos estágios finais. PIAGET (1973) faz a correspondência do desenvolvimento social com as etapas de desenvolvimento das operações lógicas.
Vê-se então, que os três fatores descritos não conseguem explicar sozinho o desenvolvimento cognitivo. A maturação, porque desconhece as condições que possibilitam a construção de grandes estruturas operatórias, uma vez que fornece as condições necessárias, mas não suficientes para o aparecimento das mesmas, e porque, quanto mais as novas aquisições se afastam das origens sensório-motoras, mais varia sua ordem cronológica de aparecimento. A experiência, apesar de essencial, depende das coordenações das ações realizadas pelo sujeito. E a transmissão social, porque o sujeito necessita de instrumentos operatórios para assimilá-la.
O quarto e mais importante fator que explica o desenvolvimento cognitivo é a equilibração, que regula e equilibra os outros três. A equilibração ocorre porque, para conhecer, o sujeito tem de agir, e quando ele se depara com uma incongruência, reage através de compensações ativas de regulagem retroativa ou proativa para compensar o distúrbio e retornar ao equilíbrio. É pelo processo central de equilibração que PIAGET (1976) explica o desenvolvimento e a formação do conhecimento.
A inteligência, sob o enfoque piagetiano, caracteriza-se pela capacidade de adaptação do sujeito ao meio. O surgimento de novas estruturas é possível pela assimilação recíproca, que cria um esquema novo e melhor a partir da assimilação das já existentes. Os outros três tipos de assimilação, funcional, generalizadora e diferenciadora, apenas conservam as estruturas já existentes. Outro responsável pelo surgimento de novas estruturas é a acomodação, que ocorre quando o organismo se adapta às características específicas do objeto, modificando as estruturas antigas. A mudança nas estruturas já existentes apenas é possível porque os esquemas têm como característica, além de se conservarem, modificarem-se individualmente e formarem relações cada vez mais complexas, interligando-se a outros esquemas. O sistema cognitivo forma-se, portanto, através de um conjunto de estruturas, que são, por sua vez, formadas por um conjunto de esquemas.
Não se pode deixar de salientar a importância da ação na teoria construtivista, pois se não houvesse ação, tampouco haveria pensamento ou desenvolvimento. Isso ocorre porque o conhecimento não está nem no sujeito nem no objeto, e sim na interação entre ambos, e a ação é a ferramenta que possibilita essa interação.
De acordo com a teoria piagetiana, o ser humano associa-se a um processo de interação. A qualidade dessas associações produz a chamada atmosfera para o grupo, e é nas interações sociais que é determinado o papel de cada sujeito; isso ocorre tanto em salas de aula como em outros grupos sociais.
Bibliografia
PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. trad. Marion Penna. R.J. Ed. Zahar, 1976.
PIAGET, Jean et al. A tomada de consciência. trad. Edson Braga de Souza. S.P, Melhoramentos, Ed. da Universidade de São Paulo,1977.
PIAGET, Jean et al. Fazer e Compreender . trad. Christina Larroudé de Paula . Leite. S.P. Melhoramentos. Ed. da Universidade de São Paulo,1978.
PIAGET, Jean. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro. Fiorense, 1973.
______ O possível e o necessário. Porto Alegre, Artes Médicas, 1985
PIAGET, Jean e Inhelder. A Psicologia da Criança.13a ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1994.
______ A Representação do Espaço na Criança. trad. Bernardina Machado de Albuquerque. Porto Alegre: Artes Médicas,1993.
______ Da lógica da criança à lógica do adolescente. São Paulo, Pioneira, 1976.
. LAPIERRE, A. ; AUCOUTURIER, B. A Simbologia do movimento: Psicomotricidade e
Educação. Porto Alegre : Artes Médicas. 1986.
São quatro os principais fatores responsáveis pelo desenvolvimento mental ressaltados por PIAGET .
O primeiro é o crescimento orgânico, o crescimento biológico das estruturas orgânicas hereditárias, a maturação; é ela que fornece as estruturas necessárias e as condições suficientes para que o organismo responda ao meio; representa um potencial para acomodar novas estruturas e novas informações a partir das primeiras. Tem papel indispensável na sucessão de estágios que caracterizam o desenvolvimento, mas não consegue explicá-lo totalmente.
O segundo fator é a experiência; um mínimo de experiência é necessário para que o sujeito construa o conhecimento. Há dois tipos de experiências: a física, da qual resulta o conhecimento físico, e a lógico-matemática. Ao agir sobre os objetos, o sujeito retira informações do mesmo, abstraindo suas propriedades (peso, cor, etc.). Esse tipo de experiência que resulta do conhecimento físico serve de base para a estruturação do conhecimento lógico-matemático, que é abstraído das ações do próprio sujeito, e não dos objetos, pois agindo sobre os objetos, o sujeito constrói relações lógicas entre e dentre eles, criando relações que não existem nos objetos e sim na ação (ordenar, reunir, classificar, etc.).
Outro fator fundamental é a transmissão social, que pode ser lingüística ou educacional; é importante lembrar que a socialização é uma estruturação, e que nela o indivíduo fornece tanto quanto recebe (operações e cooperação).
Em sua obra “Estudos Sociológicos”, PIAGET (1973) descreve dois tipos de relações interindividuais ou sociais. Uma delas é a cooperação, que implica trocas entre indivíduos quando há igualdade de direitos ou autonomia. Esse tipo de relação é capaz de socializar o sujeito, tornando-o menos egocêntrico. O outro tipo de relação social é a coação, que implica um elemento de respeito unilateral que pode ser de submissão, autoridade, etc, e que conduz à heteronomia.
Mesmo antes do aparecimento da linguagem, o social intervém no desenvolvimento por intermédio dos adestramentos sensório-motores, como a imitação, embora não modifique a essência da inteligência pré-verbal. Percebe-se, portanto, que a sociogênese intervém na psicogênese desde os estágios mais elementares do desenvolvimento.
Ao analisar a evolução do pensamento, nota-se que, nos primeiros estágios de desenvolvimento, este é egocêntrico e subjetivo; com o desenvolvimento progressivo, através da diferenciação entre o “eu” e o mundo, torna-se descentralizado e objetivo, nos estágios finais. PIAGET (1973) faz a correspondência do desenvolvimento social com as etapas de desenvolvimento das operações lógicas.
Vê-se então, que os três fatores descritos não conseguem explicar sozinho o desenvolvimento cognitivo. A maturação, porque desconhece as condições que possibilitam a construção de grandes estruturas operatórias, uma vez que fornece as condições necessárias, mas não suficientes para o aparecimento das mesmas, e porque, quanto mais as novas aquisições se afastam das origens sensório-motoras, mais varia sua ordem cronológica de aparecimento. A experiência, apesar de essencial, depende das coordenações das ações realizadas pelo sujeito. E a transmissão social, porque o sujeito necessita de instrumentos operatórios para assimilá-la.
O quarto e mais importante fator que explica o desenvolvimento cognitivo é a equilibração, que regula e equilibra os outros três. A equilibração ocorre porque, para conhecer, o sujeito tem de agir, e quando ele se depara com uma incongruência, reage através de compensações ativas de regulagem retroativa ou proativa para compensar o distúrbio e retornar ao equilíbrio. É pelo processo central de equilibração que PIAGET (1976) explica o desenvolvimento e a formação do conhecimento.
A inteligência, sob o enfoque piagetiano, caracteriza-se pela capacidade de adaptação do sujeito ao meio. O surgimento de novas estruturas é possível pela assimilação recíproca, que cria um esquema novo e melhor a partir da assimilação das já existentes. Os outros três tipos de assimilação, funcional, generalizadora e diferenciadora, apenas conservam as estruturas já existentes. Outro responsável pelo surgimento de novas estruturas é a acomodação, que ocorre quando o organismo se adapta às características específicas do objeto, modificando as estruturas antigas. A mudança nas estruturas já existentes apenas é possível porque os esquemas têm como característica, além de se conservarem, modificarem-se individualmente e formarem relações cada vez mais complexas, interligando-se a outros esquemas. O sistema cognitivo forma-se, portanto, através de um conjunto de estruturas, que são, por sua vez, formadas por um conjunto de esquemas.
Não se pode deixar de salientar a importância da ação na teoria construtivista, pois se não houvesse ação, tampouco haveria pensamento ou desenvolvimento. Isso ocorre porque o conhecimento não está nem no sujeito nem no objeto, e sim na interação entre ambos, e a ação é a ferramenta que possibilita essa interação.
De acordo com a teoria piagetiana, o ser humano associa-se a um processo de interação. A qualidade dessas associações produz a chamada atmosfera para o grupo, e é nas interações sociais que é determinado o papel de cada sujeito; isso ocorre tanto em salas de aula como em outros grupos sociais.
Bibliografia
PIAGET, Jean. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. trad. Marion Penna. R.J. Ed. Zahar, 1976.
PIAGET, Jean et al. A tomada de consciência. trad. Edson Braga de Souza. S.P, Melhoramentos, Ed. da Universidade de São Paulo,1977.
PIAGET, Jean et al. Fazer e Compreender . trad. Christina Larroudé de Paula . Leite. S.P. Melhoramentos. Ed. da Universidade de São Paulo,1978.
PIAGET, Jean. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro. Fiorense, 1973.
______ O possível e o necessário. Porto Alegre, Artes Médicas, 1985
PIAGET, Jean e Inhelder. A Psicologia da Criança.13a ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1994.
______ A Representação do Espaço na Criança. trad. Bernardina Machado de Albuquerque. Porto Alegre: Artes Médicas,1993.
______ Da lógica da criança à lógica do adolescente. São Paulo, Pioneira, 1976.
. LAPIERRE, A. ; AUCOUTURIER, B. A Simbologia do movimento: Psicomotricidade e
Educação. Porto Alegre : Artes Médicas. 1986.
Comentários
Postar um comentário
Deu aquela passadinha rápida? Que tal deixar um comentário?