Continuação: O que é Aprendizagem

A perspectiva cognitiva vê as pessoas como indivíduos ativos que aprendem, iniciam experiências, procuram informação para solucionar problemas e reorganizam o que já sabem para conseguir novos discernimentos. Em vez de estar sob uma influência passiva dos acontecimentos do entorno, as pessoas, ativamente, selecionam, praticam, prestam atenção, ignoram e tomam decisões diferentes, conformes a suas metas. As perspectivas cognitivas mais antigas enfatizavam a aquisição do conhecimento, mas as abordagens mais recentes destacam a construção do mesmo.
Para VYGOTSKY a aprendizagem é a assimilação consciente do mundo físico mediante a interiorização gradual de atos externos e sua transformação em ações mentais. Privilegiam o ambiente social, isto é, a aprendizagem é produzida através de um diálogo constante entre o exterior e o interior do individuo, e as ações mentais são formadas a partir das variáveis externas (concretas), que são interiorizadas surgindo à capacidade de atividade abstrata (ações mentais) com várias formas de manifestação (material - ações externas; verbal – linguagem; ou intelectual – pensamento) e diversos graus de generalização e assimilação.
Além disso, VYGOTSKY estabelece diferença entre o conceito de:
1. Desenvolvimento efetivo ou grau de maturidade das funções psicointelectivas - que são as que mostram quando a criança resolve as tarefas por ela mesma;
2. Desenvolvimento potencial ou Zona de desenvolvimento potencial também chamada de zona de desenvolvimento próximo, onde são produzidas ações induzidas por adultos, mas que posteriormente aparecem de forma autônoma e independente nas crianças.
Em VYGOTSKY o que tem que estabelecer é a seqüência que permite o progresso de forma adequada, incentivando a conquista de novas aquisições, sem esperar a maturação mecânica e evitando que pode admitir as dificuldades para prosperar por não estabelecer um desequilíbrio adequado.
VYGOTSKY considera que a aprendizagem acontece antes do que o desenvolvimento. Nesta concepção aprender é passar do sistema de conceitos naturais (pensamento vulgar ou senso comum), para o sistema de conceitos científicos que são os que configuram sistemas de relações complexas e organizadas. Estas relações complexas não se aprendem com procedimentos espontâneos, mas sim com uma instrução planejada que agiliza e melhora as conquista na zona de desenvolvimento potencial.
A aprendizagem é considerada como parte de atividades coletivas que precedem à aquisição individual. (linguagem infantil: primeiro aparece como forma de comunicação, depois se interioriza convertendo em linguagem interna). São as relações sociais que dão ao individuo instrumentos para ativar os processos internos que favorecem o desenvolvimento.
Para VYGOTSKY a criança nasce em um mundo social e forma uma visão deste mundo através da interação com adultos ou crianças mais experientes. Deste modo à criança vai processando a construção do real, mediada pelo interpessoal antes de internalizada.RIZZO PINTO (1997) afirma "não há aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer," (p.336).
Se não há aprendizagem sem o lúdico, a motivação através da ludicidade parece ser uma boa estratégia no auxilio da aprendizagem, como podemos observar na afirmação de MEDNICK (1983) é evidente que precisamos de ambas as coisas, aprendizagem e motivação, para o desempenho de uma tarefa. A motivação sem aprendizagem redundará, simplesmente, numa atividade à cegas; aprendizagem sem motivação resultará meramente em inatividade, como o sono. (p.21).
Para CAMPOS (1986), a compreensão e o uso adequado das técnicas motivadoras poderiam resultar em interesse, concentração da atenção, atividade produtiva e eficiente de uma classe, a falta de motivação poderiam conduzir ao aumento de tensão emocional, problemas disciplinares, aborrecimentos, fadiga e aprendizagem pouco eficiente da classe. (p.108).
Para GAGNÉ a aprendizagem é uma mudança de estado interior que se manifesta através da mudança de comportamento e na persistência dessa mudança, portanto, a aprendizagem é uma mudança comportamental persistente e ocorre quando o indivíduo interage com seu ambiente externo.
Robert Gagné desenvolveu uma teoria instrucional (voltada para a descrição das condições que favorecem a aprendizagem de uma capacidade específica) e não uma teoria da aprendizagem (a explicação de como as pessoas aprende).
Os três componentes centrais da teoria de Gagné são:
· uma classificação dos "resultados de aprendizagem",
· a identificação das "condições" necessárias à consecução desses resultados;
· os nove "eventos de instrução" que devem estar presentes em qualquer percurso de aprendizagem.
Para Gagné, há cinco tipos de resultados de aprendizagem:
1- informação verbal: a capacidade de verbalizar nomes de objetos, fatos, trechos de textos e outras informações armazenadas na memória;
2- estratégias cognitivas:a capacidade de criar ou escolher um processo mental que conduza à solução de um problema ou ao desempenho de uma tarefa;
3- habilidades motoras: a capacidade de desempenhar tarefas físicas segundo padrões estabelecidos;
4- atitudes:a capacidade de adotar um comportamento específico em concordância com valores e crenças adquiridos;
5- habilidades intelectuais, que compreendem cinco sub-categorias apresentadas de forma hierárquica (ordem de aquisição das capacidades):
a) a capacidade de discriminar classes de coisas diferentes;
b) a capacidade de classificar coisas por suas características físicas (conceitos concretos);
c) a capacidade de classificar coisas por suas características abstratas (conceitos definidos);
d) a capacidade de aplicar uma regra (procedimento simples) na solução de um problema ou realização e uma tarefa ;
e) a capacidade de aplicar uma regra de ordem superior (procedimento complexo ou conjunto de regras simples) na solução de um problema ou realização e uma tarefa.
PIAGET (1970) trabalhou compulsivamente em seu objetivo, de estudar a gênese da inteligência. Daí o nome a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como estudo dos mecanismos de formação do conhecimento lógico – tais como as noções de tempo, espaço, objeto, causalidade etc. – e da gênese (nascimento) e a evolução do conhecimento humano. Para este autor, o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como uma visão interacionista do desenvolvimento.
Piaget não desenvolveu uma teoria da aprendizagem, mas sua teoria epistemológica de como, quando e por que o conhecimento se constrói obteve grande repercussão na área educacional. Predominantemente interacionista, seus postulados sobre desenvolvimento da autonomia, cooperação, criatividade e atividade centrados no sujeito influenciaram práticas pedagógicas ativas, centradas nas tarefas individuais, na solução de problemas, na valorização do erro e demais orientações pedagógicas.
A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. Portanto:
a) Epistemologia genética - estudo de como se passa de um conhecimento para outro conhecimento superior;
b) Interacionismo - teoria psicológica que sustenta que o desenvolvimento do comportamento humano é uma construção resultante da relação do organismo com o meio em que está inserido. Esta teoria valoriza igualmente o organismo e o meio.
Segundo discorre Ulbritch (1997), a aquisição do conhecimento cognitivo ocorre sempre que um novo dado é assimilado à estrutura mental existente que, ao fazer esta acomodação modifica-se, permitindo um processo contínuo de renovação interna. Na organização cognitiva, são assimiladas o que as assimilações passadas preparam, para assimilar, sem que haja ruptura entre o novo e o velho.
Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante a incorporação de elementos do meio a si próprio
Pela acomodação, as mudanças qualitativas de desenvolvimento modificam os esquemas existentes em função das características da nova situação; juntas justificam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas.
As estruturas de conhecimento, designadas por Piaget como esquemas, se complexificam sobre o efeito combinado dos mecanismos de assimilação e acomodação. Ao nascer, o indivíduo ainda não possui estas estruturas, mas reflexos (sucção, por exemplo) e um modo de emprego destes reflexos para elaboração dos esquemas que irão se desenvolver.

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