PSICOPEDAGOGIA:TEORIA DO VÍNCULO SEGUNDO H. Pichón-Rivièri
- Pré-tarefa são todas aquelas atividades onde a presença dos medos básicos (ansiedade de perda e ataque) determinam a utilização de técnicas defensivas que estruturam o que se denomina resistência mudança. A pré-tarefa está caracterizada pôr uma situação de impostura que paralisa o prosseguimento do grupo. Faz-se "como se" se trabalhasse, "como se" se efetuasse um trabalho especificado. Nesta impostura o grupo aparece sem capacidade, com uma certa transparência, onde o sujeito é como o negativo de si mesmo, faltando-lhe revelação de si mesmo. Concorre para ressaltar a estranheza aos comportamentos alheios a ele como grupo e como sujeito, mas afins a ele como homem alienado. Realiza, então uma série de tarefas para passar o tempo (protelação, atrás da qual se oculta a impossibilidade de suportar as frustrações de início e término da tarefa) o que gera uma insatisfação constante. Isto se observa particularmente no tipo de manejo do tempo que realiza o grupo. Outra das formas características de se manifestar a pré-tarefa é o "obsoletismo dinâmico" que é uma série de movimentos que apresentam uma ação mas que na realidade são realizados a fim de impedir qualquer situação de transformação. É a expressão "gato pardismo" nos grupos, de mudar algo para que nada mude.
- O momento da tarefa consiste na abordagem e elaboração das ansiedades, e emergência da posição depressiva básica o que, em termos de Pichón, se expressaria como consciência de finitude e possibilidade de incluir a idéia da própria morte a partir de onde se poderia estruturar a tarefa possível em termos de tempo e espaço. Na passagem da pré-tarefa à tarefa se efetua um salto pôr somação quantitativa de insight através do qual se personifica e se estabelece uma relação com o outro (diferenciado). O grupo aparece com uma percepção global dos elementos em jogo, com possibilidade de instrumentá-los, com um contato com a realidade onde é possível sua colocação como sujeito ativo, onde pode elaborar estratégias e táticas, onde pode intervir nas situações provocando transformações.
- Entramos, assim então, na idéia de projeto ou produto que seriam aquelas estratégias e táticas para produzir uma mudança que, pôr sua vez, voltariam a modificar o sujeito com o qual o processo se põe outra vez em marcha.
PAPEL E LIDERANÇA
A análise dos papéis e a forma em que se configuram, constitui uma das operações básicas, tendentes à constituição de um ecro grupal. Cada um dos participantes de um grupo constrói seu papel em relação aos outros; assim, de uma articulação entre o papel prescrito e o papel assumido, surge a atuação característica de cada membro do grupo. Este papel se constrói baseado no grupo interno (representação que cada um tem dos outros membros) e que vai constituindo "o outro" generalizado do grupo. Na relação do sujeito com este "outro generalizado" se vai constituindo o rol operativo diferenciado, que permitirá a construção de uma estratégia, uma tática, uma técnica e uma logística para a realização da tarefa.
Os quatro papéis mais destacados, que se perfilam na operação grupal são:
porta-voz, bode expiatório, líder e sabotador.
a) O porta-voz é aquele que sendo depositário da ansiedade grupal, aparece, no grupo, expressando-a de diversas maneiras (através de palavras, atos ou silêncios). Nele se inclui uma interação entre sua verticalidade e a horizontalidade do grupo, o que lhe permite ser um emergente qualificado para denunciar qual é a ansiedade predominante que está impedindo a tarefa. É importante discriminar no processo de depositação que constrói os diferentes papéis, os três elementos que a constituem: o depositante e o depositário, para permitir assim, uma redistribuirão da ansiedade e a ruptura do estereótipo dos papéis.
b) Outro papel que aparece freqüentemente nos grupos, o de bode expiatório, surge como contrapartida ou decadência do chamado líder messiânico. Esta situação é característica quando existe uma forte predominância do pólo paranóico. O bode expiatório é o depositário de todas as dificuldades do grupo e culpado de cada um de seus fracassos. As ideologias messiânicas, ou com tendência à idealização, que se fazem a cargo do grupo, tendem constantemente a desenvolver este tipo de papel.
c) Outros papéis que Pichón destaca em sua importância são: o de sabotador e o do bobo do grupo, quase universais, são depositários das forças que se opõem à tarefa no interior do grupo (grupo conspirador), o que determina o aparecimento de mecanismos de segregação. A segregação é o fantasma que ameaça constantemente o grupo e é uma tentativa fracassada de redistribuição da ansiedade, o que implica em dificuldades para enfrentar situações de mudanças. Podemos dizer que assim como a projeção é o fantasma que ameaça constantemente a comunicação interpessoal, a segregação é o principal inimigo na construção de uma comunicação grupal.
d) A detecção dos líderes tem uma importância fundamental na compreensão da dinâmica do grupo, tanto é assim, que a estrutura e a função do grupo se configuram de acordo com os tipos de liderança assumidos pelo coordenador. A liderança pode ser assumida tanto pelo coordenador como pelos diferentes membros do grupo e a análise e a elucidação em ambos os casos é necessária para quebrar as estereotipias de funcionamento. A teoria dos papéis se compõe então, dessa representação que cada um tem de si mesmo e que responde a uma representação de expectativas que as demais pessoas têm de nós. Em função das expectativas que temos dos outros, e que os outros têm de nós, se produz uma correlação de condutas que denominamos interrelação social. Assim se dispõe cada um para o outro com um protótipo de atitudes na qual cada um pode pré-julgar ou pré-dizer qual é o tipo de conduta que receberá como respostas às mensagens que emite. Isto é o que se chama expectativa de papel, ou seja, todas as condutas que esperamos das pessoas ao nosso redor. Este conceito, no campo de certas psicologias sociais, constitui o que se chama análise da atitude social, que configura o estudo das disposições que cada um de nós tem para reagir frente a um fato social determinado. Consideramos que, justamente, operar um grupo, consiste em romper com estas expectativas fixas e atitudes prototípicas, gerando novos modos de comunicação e efeitos de sentido que possibilitem uma transformação grupal.
ECRO GRUPAL - (Esquema Conceitual, Referencial e Operativo)
Este esquema conceitual-referencial está baseado na idéia de uma interdisciplina que compreenda o estudo geral da problemática abordada. Esta noção de interdisciplina é a que vai dar origem à necessidade de heterogeneidade nos grupos operativos, onde a maior heterogeneidade entre seus membros corresponde à maior homogeneidade na tarefa. Este ECRO é instrumental e operativo no sentido que a aprendizagem do grupo se estrutura como um processo contínuo e com oscilações, articulando os momentos do ensinar e do aprender a que se dá no aluno e professor como um todo estrutural e dinâmico. Esquema Corporal O esquema corporal se conforma através de senso-percepções que vêm do próprio corpo como também do corpo do outro.
Recebemos informações, através do córtex cerebral, de cinco diferentes tipos:
1. Sensações que vêm da superfície corporal;
2. Sensações que vêm do interior do corpo;
3. Sensações que provêm da tensão muscular;
4. Sensações que informam a postura corporal;
5. Sensações que provêm da percepção visual.
Considerando cada membro, cada órgão, como parte de um grupo interno corporal, conclui-se que todos os órgãos de nosso corpo constituem um grupo, cuja tarefa é a aprendizagem e a correção das enfermidades orgânicas. A tarefa do terapeuta consiste em esclarecer os conflitos que existem entre eles, evitando que um dos órgãos seja o depositário da ansiedade do grupo, assim como o enfermo mental é o depositário da enfermidade do grupo familiar. Esta concepção de grupo orgânico e de grupo psicológico é fundamental para o tratamento grupal dos enfermos chamados orgânicos e sem provas de sua organicidade. O estudo do corpo do grupo nos leva ao conceito de distância social. Existiria uma distância ótima, uma altura espacial e emocional ótima, que permite uma melhor comunicação, uma maior segurança psicológica e uma maior operatividade para cada situação. Se a distância é exagerada aparecem perturbações na comunicação; se, pelo contrário, existe um excesso de aproximação, se produz uma situação de rejeição e bloqueio no outro. Esta distância social implica tanto o corporal como o emotivo, tanto o espaço do eu como o espaço do id. Dizemos, finalmente, que devemos entender o esquema corporal não como a representação empírica do próprio corpo, mas sim como a representação fantasmática grupal constituída pôr todos os vínculos espaços-temporais.
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